NOTÍCIAS O DENTE CARIADO DE CRISTO 

O Dente Cariado de Cristo Completa 35 anos em 2025

 

No início da década de 1990, um jovem poeta do Rio de Janeiro lançava seu primeiro livro de poemas, intitulado O Dente Cariado de Cristo. À época com apenas 16 anos, o autor já havia começado a escrever suas composições entre os 13 e 15 anos, culminando no lançamento que viria a provocar um grande impacto não apenas em sua vida, mas também na cena literária local e do Rio de Janeiro

O livro foi produzido de forma independente e teve uma tiragem modesta de cerca de 500 exemplares. Apesar da pequena quantidade, a repercussão alcançou jornais locais e até mesmo o prestigiado O Globo, catapultando o nome do jovem escritor para um reconhecimento inicial, porém conturbado.

A jornada para publicar O Dente Cariado de Cristo não foi fácil. Enfrentando resistência na escola e até mesmo dentro de sua própria família devido ao conteúdo ousado e à linguagem crua dos poemas, o poeta viu-se envolto em polêmicas e censura. Ainda assim, o apoio decisivo de Apolinário do Carmo Reis, líder da associação de moradores do Bairro Ipiranga em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi fundamental. Reis não só patrocinou parte dos custos de produção como também incentivou o jovem poeta a persistir diante das adversidades.

“Eu devo muito ao senhor Apolinário. Ele acreditou em mim quando poucos acreditavam”, relembra o poeta, que na época não tinha uma renda fixa e enfrentava uma dívida de dois salários mínimos. Com a venda dos exemplares, o jovem conseguiu quitar o débito em menos de 30 dias, demonstrando não só seu talento artístico, mas também seu empreendedorismo e determinação.

Para promover seu livro, o poeta percorreu os bares e restaurantes do Centro do Rio e diversos bairros cariocas, seguindo a tradição de autores independentes da época. Essa abordagem direta ao público não apenas ajudou na venda dos exemplares, mas também moldou sua visão sobre a literatura e sua relação com o leitor.

Poemas de O Dente Cariado de Cristo

Aqui estão alguns dos poemas originais que marcaram o início da trajetória literária do poeta:

 

  1. DEUS NÃO TEM CERTEZA
  2. SEJA DEUS
  3. APREÇO SEM PREÇO
  4. LIBERTAR
  5. SEMPRE
  6. SEGURE-A
  7. NÃO MÃO
  8. ENSEJO (OPORTUNIDADE)
  9. A ESTÁTUA
  10. BELEZA ACESA
  11. PREEMINENTE DEUS-HOMEM
  12. (RESPOSTAS (DEUS E CONSCIÊNCIA))
  13. HÁ TEMPO?
  14. O PENSAMENTO SEM CÉREBRO
  15. HOMEM E MULHER (PSICOLOGIA)
  16. BENEVOLÊNCIA
  17. (INTERPELAÇÃO) DEUS E MORTE
  18. SÉTIMA VOGAL DO DEDO
  19. ELA E DEUS
  20. X MANDAMENTOS DE UM POETA
  21. E SE SAÍSSE?
  22. O VENTO LEVOU AS FLORES
  23. DÍFICIL HOLOFRASE
  24. PERSONAGEM REAL
  25. SER É TER

 

DEUS NÃO TEM CERTEZA

Deveríamos ver para ter a certeza

de que temos a certeza.

O que sentes é correto

mas, o que acontece também é evidente.

 

É tão verdadeiro que estou convicto

que não dão certificado a mais ninguém.

Isto é um desaforo 

que deus criou, em não dar.

 

Maio que deus é o pai de Jesus (José(

que aceitou que deus violasse sua mulher

e não o desrespeitou (Deus) e o criou (Jesus)

 

A única exatidão que tenho

é de que o acatamento é certo

e que é pontual reverenciar

respeitar com a certeza de que

perpetuamos o respeito, certamente.

 

SEJA DEUS

Se aceitar o que digo,
se provar o que digo,
jamais terá inimigo.

Você e sua consciência são deuses.
Seja a liberdade,
tendo a visão de que tudo
é realizado em igualdade.

Não ame-o (homem),
ame a todos.
Não venere a Deus,
diga que é Deus.

Não siga-os, siga-se.
Evite a elite selvagem,
pois esta não tem classe.
A pobreza é o pai da virtude.

 

APREÇO SEM PREÇO

Vai crescendo e se torcendo
como sendo um menino
que vai tocando este sino
sem amor.

O homem não descobriu
se abriu ou caiu
a pedra da verdade e da maldade.

Como quero vencer sem me posicionar.
Como vencer sem me oscilar.

Os carros viajam só,
e só com eles eu não vou.
E se ele for com alguém,
eu vou.

As partes mais elegantes
estão tão distantes e ofegantes.
Não sei se sou um burguês.
Não assumo ser malandro,
mas, quando ocorrer, é de vez.

Palavras são sempre amigas,
amigas eu não esqueço,
são muito importantes.
Confesso que reconheço
que é um apreço sem preço.

 

LIBERTAR

Sábio sou,
Pois sei que não sou sábio.
E saiba que serei quem sou,
Pois sábio sou.

Tranquilize-se, menize-se, certifique-se.
Se sou perverso, que versos não redigo,
Sem escrever eu mesmo a minha perversidade.

Persigo e não te sigo no absconso sonso.
Querendo a dialética, eu fujo da ética,
Que, apesar de robusta, é eclética.

Nada planto sem encanto e sem canto.
No entanto, sou o recanto do teu santo desencanto.
Aparecer no florescer é como ser parecido
Com a flor que recomeça a viver.

Se eu sou inconveniente, não posso negar.
Se eu sou prudente, tento me acalmar.
Se eu sou vidente, não posso falar.
Sou apenas um homem com a vontade
De me libertar.

 

SEMPRE

Terá o que tens.
Será o que tens.
Verá o que tens.

Terá o que não pode.
Será o que não pode.
E verá o que não pode.

Não podemos ter mais
Do que temos.
Não sei por quê!!

Não seremos o que queremos.
E veremos o que não queremos.
E pouco teremos.

Sempre.

 

SEGURE-A

Não é inveja,
Só ciúme.
Não é ciúme, é medo.
Não é medo, é neurose.
Não é neurose, é fanatismo.
Não é o não, é o sim.

Perdi, ele achou.
Olho, ele supera.
Eu corro, ele para.

O amor é uma trilha
Que dá numa ilha
Sem a minha Marília.
É um pedaço do pescoço
Que não encontram osso.
É um sorriso de cachorro
Impreciso e acampto.
É um corpo em desafio
Cortado e esmagado
Por um fio.

 

NÃO MÃO

Se cruzam,
Se endedam, anelam,
Roçam-se, coçam-se.
Pessoas sem figuras,
Porém, têm o estranho jeito
De serem peculiares.

Trocam-se, tocam-se, enroscam-se.
A parede é um amigo sem sentido,
Que, em diálogo, logo fico desinibido.

Tem a graça de realizar
Gracejos e impejos,
Que o desejo ânsia num ensejo.

Ligam a mão,
Segue o então esperado
Aperto de mão.

Com ardor e frio,
Abrupta e sutil.
São elas o preâmbulo da vida
Que dá vida.

 

ENSEJO (OPORTUNIDADE)

Adorar a todos,
ser adorado,
não adorar.

Querer tudo,
ser querido,
não querer.

A trágica conclusão
é que o ensejo
de ser burlado nunca explode.

Não ter tudo,
ter o não,
e não ter.

Aceitar o sim,
o sim ser aceito,
ou aceitar assim.

Temer o obscuro,
o obscuro nos teme,
e temo ser obscuro.

Tenha ensejo com pejo.

 

A ESTÁTUA

Nem o ódio que odeio,
O sol que incendeio,
O seio,
Traz a fleuma.

Nem a cara que encaro,
A guerra que guerreio,
A asa que azeda com o tempo
Faz a pachorra.

Nem o ensino que aprendo,
A prisão que me apreendo,
Está sendo presa
Sem eu estar tendo
A surpresa.

Nem o olho que olho,
A boca que bloqueio,
O bloco que está fora de foco,
Atrai minha estátua de lata
Com alma de prata.

 

BELEZA ACESA

Não se pode ser tem, ter.
Não se pode ter sem ser.

Ter é ser.
Ser é ter.
Não tenho, não sou.
Tenho e é, então, sou e é.

A sombra da utopia
Não caminha com seu corpo
Que, por ventura, está morto.

Dá-nos o que somos
E seremos o que deste.
Dê, porque somos.
Somos porque deu.
Por que somos e demos?

 

PREEMINENTE DEUS-HOMEM

Com a morte vem a fama.
Com a fama vem a morte.
Posso não ter, mas sinto.
Posso não sentir, mas tenho.
Tenho riqueza, mas não sou rico.
Sou rico, mas não tenho riqueza.
Sou belo, mas não tenho beleza.
Tenho beleza, mas não sou belo.

Deus mandou matar um homem,
e eu matarei Deus.
Deus arrependeu-se, envergonhou-se de nós,
e nós devemos nos vexar por ter este Deus.

Deus-Homem, Deus-pecador.
Pecado é pensar em não fazer pecado.

Somos presidiários.
Não podemos ter outros deuses
a não ser Deus.

 

(RESPOSTAS (DEUS E CONSCIÊNCIA))

Quando sabemos diferenciar
Deus e consciência.
Quem comigo fala?
A consciência é filha de Deus?
Deus adotou a consciência?

A consciência é de Deus?
Ou Deus é da consciência?
Se Deus é consciência todos
Os pensamentos se igualam?
Se igualam pensamentos
Por que não igualar Deus
Que é um pensamento?

Penso muito em Deus
Porém, Deus pensa muito
Para muitos parar e, para…

Parar de pensar na consciência
É talvez para Deus apenas um pensamento
Que retorna com um pensar mais igualitário.

O tempo de Deus é todo para mim?
E para mim o tempo é todo para Deus
Fugindo do adeus.

A mulher foi usada para produzir
A escultura do Senhor.
E se tu usas a mulher
Que é tão folha,
Evitarei raciocinar como o homem é escamoteado.

O homem não produz esta folha.
Ele cria a flor, o polém,
E ainda não sabe ser bom regador.
Cuidar de toda flor.

 

HÁ TEMPO?

Há tempo espero tempo
Para que o tempo tenha tempo
Para preencher o meu vago tempo.

Quando chegar o tempo
O tempo terá tempo para ser
Um dos meus tempos.

Pode não haver tempo
Para tanto tempo
Que o tempo não tem tempo
De se sentir tempo.
É que tudo ocorre
E complica por um íntimo tempo
Que também é um colossal tempo.

 

O PENSAMENTO SEM CÉREBRO

Na parede, meu retrato.
No caderno, meu nome.
Na mente, minha imagem.

Na parede o nome do retrato
E na parede o caderno da imagem
Com a mente do caderno
Ajudando a mente do retrato
A fugir da mente na parede
Que na mente sem nome
Constrói a mente com duas imagens.

A parede com a mente.
O nome com a imagem
Dá o caderno sem retrato
E a parede leva a imagem.

Levo o meu retrato pregado na imagem
Secando o retrato e o caderno
Mexendo com um retrato mental
Que o retrato da imagem
Carregou até o retrato nominal.

Este caderno retrata
O caderno de nome
Que vários cadernos na parede
Esqueceram da imagem mentalizada.

Meu nome na parede-metal
Da imagem, encadernou
O retrato na parede com cérebro.

 

HOMEM E MULHER (PSICOLOGIA)

Toda mulher é filha de um homem.
Todo homem busca uma mãe,
Não uma mulher,
Ou quem sabe um outro homem
Como a sua mãe.

Todo filho é parte homem e parte mulher.

Eles buscam a outra parte.
Eles acham homem para homem
E mulher para mulher.

Todo homem é filho de uma mulher.
Toda mãe busca um pai,
Não um homem,
Ou quem sabe uma outra mulher como o seu pai.

 

BENEVOLÊNCIA

Vivo e morro vivo.
Morro e vivo morto.
Morto, viverei vivo.
Vivo, morrerei morto.

A penúria de minha alma
é tê-la na riqueza do meu
físico exibicionista.
A supremacia do meu físico
é ter a alma no ínfimo ego.

Nem todos os ratos saem do esgoto.
Nem todos os pássaros voam alto.
Nem todos os homens são filhos
de Deus-Homem.

Viver é ver e viver.
Morrer é ter a vida
e saber quando é a partida.
Aceitá-la e conformar-se.
Regenerá-la e acreditar-se.

 

(INTERPELAÇÃO) DEUS E MORTE

Deus é morte?
Morte é Deus?
A morte é um deus?
Deus é uma morte?

Deus é Deus?
Morte é sorte?
Morrer é infernal?
Ou infernal é a morte?

Deus tem a morte?
A morte é de Deus?
A morte tem Deus?
Deus é da morte?

 

SÉTIMA VOGAL DO DEDO

Me consertaram: Tua contestação é provisória
e isto será ternura que virá do cérebro do coração.

Já estamos chorando
sem lágrimas e orando
com Bíblias do meu testamento.
De quem é o testamento?
Do cesto e do lamento
é o medo que o texto atesta
com o texto sofrimento
do certo e da testa.

Suas sétimas gotas no dedo
vieram das gotas do sétimo dedo.

Sua carne espiritual procede.
Tua parte digital cede.
Mas a boca-genital não segue.
E o sétimo nome continua com a vogal e voz.

 

ELA E DEUS

Deus, outro dia,
apaixonou-se por mim.
Pediu para eu lhe ensinar
como aceitar o fim.

Deus, outro dia,
ficou enamorado
por um dos meus namorados.

Deus, outro dia,
disse frases verídicas,
roedoras da inteligência,
maltratando-a e desejando-a.

Deus, outro dia,
contou-me sua vida:
Sua ida é sempre aplaudida.
Sua vinda é estarrecida.
Sua hospedagem, aborrecida.

Deus, outro dia,
quis prazer, ser um ser,
quis mentira e fantasia,
quis maldade e agressividade.
Deus, outro dia, disse adeus
e não quis ter mais Deus.

 

X MANDAMENTOS DE UM POETA

Uma amante por ano,
Um poema por dia,
Uma tristeza por mês,
E boas companhias.

Uma decepção por ano,
Uma frase por dia,
Muitas tristezas na vida,
E grandes alegrias.

Um título na letra,
E uma dor de raiva e agonia.

 

E SE SAÍSSE?

Se todos fôssemos todos,
Seríamos muitos todos.
Porém, nem todos querem ser todos,
Porque todos são poucos e poucos querem.

Todo porquê é todo o quê?
O que você quer e por quê?
Sem porquê não tem. Por quê?
Ficar sem o não tem!
E sem eu não tenho?

Daí e para aí eu sou assim,
Que dá aí para mim,
Sem ser o sim.

Pode sacar e pode sacar
Que pode e não pode,
E o pode não pôde,
Por não pôr-se.
E não pondo não posso
Ser quem?
Ou aquém de te, vê.

Saí e parti sem sair.

 

O VENTO LEVOU AS FLORES

Eu vi as sete pétalas da rosa,
a verde e a formosa,
o vento levar, despedaçar.

Senti uma flor desconhecida,
amarela e inibida,
a flutuar, a flutuar.

Encostei em uma papoula:
tinha vermelha, tinha rosa,
tinha semente de ampola.

Amei uma margarida,
tão enganada, tão amada
e cantada que se sentia sofrida.

Meu amigo era um cravo
e também era inibido,
e se sentia sofrido
por amar aquela rosa.

O espinho atacou meu coração,
transformou minha paixão
em um caso perdido.

Eu vi os ventos levarem
as flores, os meus grandes amores,
eu vi e  senti amor.

 

DÍFICIL HOLOFRASE

O zuário voluptuoso,
viga urinoso,
trospefera troiano,
e o telelista que estava ganhando,
foi trágico, sumarento, suntuoso.

Aconteceu um rumorejante
em murmulho de vozes.
Sabatina foi cuidadoso
e ao sabatizar foi rarefetivo,
foi muito festivo,
casar com o mar.

E o politeísmo quis polinizar,
quis fazer, mas não quis dar.
A Bahia virou mitredo,
ficou com medo,
e não quis mais falar.

Mas veio o trevo aquático
tornar-se menor, virar mingu,
ficar com o nu.

Eu queria ser lipo
do que ser rastejante.
Como essas minhas holofrases
pouco excitantes.

 

PERSONAGEM REAL

 

O negro é superior.

O animal, racional.

Deus é ditador

E o homem, irracional.

 

Deus não é onipotente.

Livrando-se dele será independente.

Dê valor as amizades

E deixe deus ser pesquisador.

 

Deus é imperfeito.

Arrependeu-se e matou

Uma pessoa como esta

Não sou.

 

É só o amor que evolui

Pode ser um ser superior

Não a Bíblia que foi escrita

Sem assinatura do autor.

 

SER É TER

 

É bonito ser inteligente?

É inteligente ser bonito?

Ser bonito é inteligente?

Ser inteligente é bonito?

 

Ter beleza acesa

na clareza da pureza

parece esperteza

mas é dureza.

 

Ser inteligente

é saber erguer

estavas e placas

de gentes que não são inteligentes.

 

Ser belo é ter a pureza da certeza

não ter esperteza

e pouca dureza

 

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