ESCRITOR IMPRENSA POETA 

CRÍTICO LITERÁRIO DO JORNAL O GLOBO ENTREVISTA O POETA MARCELO GIRARD

André Luis Mansur É jornalista, escritor e crítico literário do jornal O GLOBO

Entrevistando
Marcelo Girard (ENTREVISTA CONCEDIDA EM 2005)

André – Como está a repercussão de “O perfume do átomo”?

Girard – Tá além do que eu esperava.
apareci no RJ TV numa matéria sobre poesia do dia 1 de julho, recebi uma pequena nota no SEGUNDO CADERNO do jornal O GLOBO e ainda ganhei um convite do Clayton da CINÉFILA. Ele quer fazer um curta com meu trabalho ou uma poesia, não sei bem o que é, mas eu topei.E ainda ganhei elogios de CHACAL e fui chamado de modernista e Marcelo Girard, poeta leminskiniano referência a PAULO LEMINSK tá muito bom! . Nem eu sabia que podia chegar a tanto.

 

André – Você tem um estilo muito direto de abordagem, apresentando sua poesia em bares e locais públicos em geral…será que na zona oeste, região com grande carência de espaços culturais, é preciso mais do que nunca “ter de ir aonde o povo está”, como diria o Milton Nascimento”?

Girard – O povo não sai de casa pra ir ao teatro, assistir peças ou musicais ou ouvir poesia.O pouco tempo que resta nas horas vagas ele vai pro funk, pagode, barzinho, boate, termas .O povo não sabe dividir seu tempo com outras coisas e até porque ninguém gosta do que não conhece e não é violência que dificulta a cultura pois todo mundo continua saindo e se divertindo. E cultura ainda é muito caro: livros, cds, teatro, cursos e oficinas que poderiam ser grátis são pagos , quem tá preocupado em encher o espírito se a barriga tá vazia. O artista tem que sair do casulo e ir atrás do seu alimento (os aplausos) ou vai ter uma indigestão (vaias).

André Mansur – Você se diz fã de Gregório de Mattos, o “boca do inferno” e de Raul Seixas.Que influências esses dois artistas têm na sua obra?

Girard – Como nunca fui de cheirar, beber ou fumar maconha fui escrever poesias-letras e todo jovem gosta desse título de maldito.
Gregório é o que eu gostei de lê e Raul o que eu gostei de ouvir e ainda ouço quase todo dia.Mas quando ganhei o título do jornal O globo em 1992 de “ MAIS UM ESCRITOR MALDITO” não gostei muito, depois me acostumei

André Mansur – Como você vê a poesia brasileira hoje? E, mais especificamente, no Rio de Janeiro?

Girard – a poesia brasileira é carioca. Academia é aqui, A FLIP é aqui a melhor Bienal é aqui e a Rede Globo é logo ali. Isso é bom. Sorte minha. Que tô com aval do Mano Mello, Geraldo carneiro e Chacal. E os vários eventos de tantos poetas é bom pra vê como o outro escreve pior do que você, não precisa se esforçar para conhecer os poetas vivos e suas qualidades poéticas.E daí pra frente só melhora quem quiser. Ainda espero que a década de 90 que eu classifico como ANTOLOGISTA não volte apenas e façam antologia por bons motivos, porque poesia não é lingüiça.

André Mansur – seu livro é uma produção independente e tem um formato bastante original.Como foi o processo de criação ?

Girard – Lê é muito chato. Todo jovem pensa assim, mas por exemplo um livro com formato de CD e que por dentro parecesse um SITE, seria um atrativo para todas as idades e foi em cima disso que trabalhei e muita gente ta gostando, mas eu me esforcei muito para esse resultado e o preço também que ajuda porque todo mundo que gosta pode comprar na hora , imagina se eu botasse um preço caro eu estaria impedindo o meu leitor de ter acesso e a intenção não é essa.

André Mansur – O que você acha ser preciso para a zona oeste ser menos discriminada culturalmente?

Girard – imagina O DENTE CARIADO DE CRISTO com cheiro que RAIVÓDIO que as pessoas sentiriam.Bem, acho que minha POESIA MIX é assim…
Fedor ou perfume pode ser verdadeiro ou não , agora tem que saber se é para impressionar ou se auto-afirmar porque a opinião é sempre o outro que dá e a nós só nos cabe auto-crítica

E de brinde uma poesia do autor:

NÃO VOU AO MEU ENTERRO

Para evitar o cheiro das flores
O choro do meu inimigo
O encontro de meus dois amores
As roupas apertadas
Parede de madeira envernizada

O sono silencioso dos sonhos
A maquiagem fora de moda
Rabecão correndo sem cuidado
Pertences pelo coveiro roubados

Eu virar santo
Qualquer um da autópsia
Desnudar o manto
Um padre desconhecido
A missa comprada
Uma reza obrigada
E em vida me lembrar
Que não fui nada.

FONTE http://www.pcg.com.br/entrevista/marcelogirard/

ENTREVISTA CONCEDIDA EM 2005

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